Dona da empresa, localizada no Tatuapé, teria sumido e deixado clientes sem suas reservas de estadia ou passagens aéreas; advogado diz que ela está incomunicável por questões de saúde. Hotel em Las Vegas, nos Estados Unidos, no qual uma das clientes da Go Travel ficou hospedada por três dias.
Reprodução/Acervo pessoal
A polícia está investigando a agência de turismo Go Travel, também conhecida como “Gugagi”, por enganar os clientes e não cumprir os pacotes de viagem contratados.
A investigação começou no início de julho, período em que, segundo os relatos feitos ao g1, a proprietária da agência, Márcia Rubio Coronado, deixou de responder aos contatos de pessoas que tinham fechado pacotes de viagens nacionais e internacionais com a agência.
Muitos clientes tiveram que cancelar as suas viagens ou arcar com novos custos para realizá-las porque Márcia não tinha enviado algumas das suas reservas de passagens aéreas e estadias.
Ao g1, o advogado da empresária disse que ela está “com problemas de saúde” e que se manifestará “oportunamente”.
No site Reclame Aqui, há mais de dez publicações de clientes da agência insatisfeitos mencionando o “sumiço” da empresária. Não há retorno.
60 boletins de ocorrência
Cerca de 60 pessoas, a maioria residente no Tatuapé, registraram boletins de ocorrência contra a Go Travel até o dia 14 de julho, de acordo com o delegado responsável pelo caso, Milton Burguese, do 30° Distrito Policial (DP).
Segundo Burguese, esse número expressivo de denúncias fortalece as acusações, mas a apuração segue em andamento.
A agência de turismo funcionava em uma sala alugada dentro de uma clínica de estética também localizada no bairro do Tatuapé, em São Paulo. Em busca de respostas, alguns clientes chegaram a ir até o local ao longo do último mês, mas, segundo eles, não havia mais nada da agência no lugar.
O g1 também foi até o espaço, mas a clínica de estética, que segue funcionando no local, não permitiu o acesso da reportagem nem quis comentar o caso.
Alguns clientes da agência de turismo Go Travel fecharam uma viagem para a Praia do Forte (BA), onde ficaram no resort Iberstar.
Acervo pessoal
Na Bahia, sem respostas
Segundo clientes da agência, foi durante a viagem de um grupo à Praia do Forte, na Bahia, que começou no dia 8 de julho, que Márcia parou de responder aos contatos dos clientes.
O empresário Rodrigo*, de 42 anos, é de São Paulo e estava lá com a esposa e os três filhos. Ele conta que, além deles, havia outros 73 clientes da Go Travel no local.
Um dos atrativos oferecidos pela agência, segundo Rodrigo, era o preço. Ele diz que pagou cerca de R$ 9.000 por um pacote que incluía as passagens de ida e volta de São Paulo para a Bahia da família e a estadia de uma semana em dois quartos no resort Iberostar.
Para comparação, somente a estadia de uma semana em um quarto no hotel da Praia do Forte, entre os dias 16 a 23 de setembro deste ano, não sairia por menos de R$ 14 mil, segundo pesquisa feita no site oficial do resort no dia 15 de agosto.
Apesar da oferta parecer excessivamente generosa, Rodrigo não desconfiou da agência porque Márcia e a sua esposa eram colegas de academia e outros conhecidos também tinham fechado pacotes para a mesma viagem.
“Umas 30 pessoas do grupo que foi para o Iberostar frequentavam a mesma academia no Tatuapé”, conta o empresário.
O sufoco começou, segundo Rodrigo, dois dias antes do final da viagem, no dia 13 de julho, quando os dois funcionários da agência que estavam no local informaram que Márcia, que estava em São Paulo, teria passado mal e estaria incomunicável.
A partir daí, Rodrigo não conseguiu mais contato com a dona da agência e, como ela ainda não tinha enviado as passagens aéreas da volta à São Paulo, nem dele nem da sua família, ele teve que arcar com os custos de novos bilhetes para todos, o que saiu por cerca de R$ 6.000.
Ao g1, os dois funcionários da agência que estavam na Bahia disseram que também foram pegos de surpresa com os acontecimentos envolvendo Márcia, que, segundo eles, “sumiu sem pagar os salários, inclusive”.
A reportagem tentou contato com o Iberostar para obter mais informações sobre o caso, mas, até o dia 5 de setembro, não obteve resposta.
Sônia Maria de Lima, cliente da Go Travel, no avião, rumo à Las Vegas, nos Estados Unidos.
Acervo pessoal
Sonho interrompido
Na mesma época, fora os que estavam na Praia do Forte, havia clientes da Go Travel em outros destinos.
Entre eles, Sônia Maria de Lima, instrumentadora cirúrgica, de 51 anos, natural de Minas Gerais, que chegou sozinha à Las Vegas, nos Estados Unidos, no dia 11 de julho.
Para ela, a viagem era a realização de um sonho pelo qual investiu R$ 8.000 em um pacote da Go Travel, que incluía as passagens de ida e volta, onze diárias em um hotel e seguro saúde. A agência foi indicada pelo despachante que solicitou o seu visto.
Mas, chegando nos Estados Unidos, ela foi informada pelo hotel de que a reserva em seu nome não tinha sido paga e, por isso, estava cancelada.
Ela diz que entrou em contato com Márcia, que após muita insistência, transferiu o valor correspondente a duas diárias no hotel estabelecido anteriormente e outras três em um novo estabelecimento.
“Depois disso, ela sumiu. Não respondeu mais às minhas mensagens. Eu estava em Las Vegas sem hospedagem para o restante da viagem nem passagem de volta”, conta a instrumentadora cirúrgica.
Diante dessa situação, Sônia decidiu voltar para o Brasil antes do previsto, mas só conseguiu comprar passagem para dali a dois dias.
“No fim, gastei quase R$ 5.000 a mais do que o planejado, contando a passagem de volta ao Brasil e os dois dias de hospedagem com os quais tive que arcar por conta própria”, descreve.
Para Sônia, assim como para outros clientes que entraram em contato com o g1, a alegação de que Márcia estaria com problemas de saúde é apenas uma fachada.
“Falaram que ela passou mal no dia 13 julho, mas eu descobri que a minha hospedagem tinha sido cancelada no dia 4 de julho, por isso, não acredito”, justifica.
Em busca de apoio, os clientes da Go Travel criaram um grupo de WhatsApp para trocar informações sobre o caso. Atualmente, o grupo conta com 83 membros.
O que diz o Procon-SP
O Procon-SP, órgão especializado na defesa do consumidor informou, no dia 22 de julho, que há sete reclamações registradas contra a Go Travel no seu sistema. A reportagem solicitou atualização desse número, mas ainda não teve retorno.
O órgão explicou que, de maneira geral, independentemente da situação do proprietário da empresa, esta tem a obrigação de cumprir as “ofertas feitas e respeitar os termos dos contratos assinados com os consumidores”.
Ainda, segundo o órgão, “cabe à empresa manter ativo um canal de contato para que os consumidores possam tirar dúvidas, resolver problemas, trocar informações etc.”.
*Optou por omitir o sobrenome.
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